quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Nelson Gonçalves e o Grupo Capixaba Zé Maria


Zémaria: Música eletrônica versátil

Não há dúvida de que José e Maria são os nomes brasileiros mais comuns. Também não há a mínima dúvida de que eles sugerem humildade e resignação. São nomes que parecem pedir um complemento para soarem mais fortes, imponentes. Zémaria, disco de estréia da banda homônima, contrasta radicalmente com as características sugeridas pelas alcunhas dos pais de Jesus Cristo. O álbum é contemporâneo, sofisticado, globalizado. É música eletrônica versátil, que serve tanto para dançar quanto para ouvir em momentos de distração.

Os arranjos modernos, ricos em texturas psicodélicas, destoam do laconismo das letras, que muitas vezes surgem como meros acessórios ao som do grupo. Os 22 caracteres que compõem os versos de “Alegria”, primeira música do disco, deixam claro que a intenção da banda é comunicar por meio dos timbres sintéticos, oferecendo, dessa forma, múltiplas possibilidades interpretativas ao público.

Isso não quer dizer que o disco seja repleto de canções maçantes, tipo bate-estaca. Zémaria é eletrônico, mas não é um disco produzido exclusivamente em computador. Tem baixo, guitarra e bateria tocados normalmente. Prova disso é o road-song urbano “Jardim Camburi”, com baixo galopante e nuances de bossa nova, estilo presente também em “Do Limite ao Tempo”. Essa música, inclusive, tem a participação do violonista Nelsinho, do grupo de choro Carne de Gato.

“Mariola”, por causa de sua letra, também tem ares de road-song: “eu fui a Nova Almeida mas não sei voltar de lá, minha casa ficou na lembrança, minha casa é todo lugar”. Diferente de “Jardim Camburi”, “Mariola” é mais selvagem, incorporando batidas tribais e guitarras distorcidas.

A música seguinte, AM, chama a atenção pelo formato pop, enquanto “Tá tudo esquematizado” mistura guitarra surf music, BPMs aceleradas e samples de tambores de congo.

Os momentos mais viajantes ficam por conta de “Vermelha” (essa tem até videoclipe), “Há de estar” e “Um som na sala”, cuja letra cita a proposta do Zémaria: “uma nota, um loop, não é nada demais (…) ouça o sol rachar, quem me dera samplear a cor do som, só um dia”.

O disco atinge o clímax na última faixa, “Prece muda”. Com aproximadamente 10 minutos de duração, começa arrastada e depois ganha fôlego com os samples da bateria da escola de samba Unidos de Jucutuquara.

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